domingo, 5 de outubro de 2008

Não tem nome



«a porta entreaberta dá azo aos arrepios que já me conhecem o mapa do corpo e sabem exactamente onde cair.

peço-te que a encostes, fica mais quente assim, e sorrio, aquele sorriso de malícia que tantas outras vezes me valeu um beijo sem fôlego.

arrastas a pele para mim, roçando o cabelo nos meus poros desprevenidos. um braço sobe, tocas-me no rosto como se apreciasses a escultura mais nobre, de contornos singelos, a medo.

um beijo no pé, uma costura que se rasga;

um aperto no sangue e na voz: somos a noite, em esplendores raros, em denúncias ao céu.

sinto-te, enquanto te passeias na praia que é o meu dorso, areia fina, alva: língua que morde.

chegas-te a mim, olhos fechados para melhor bebermos o amor.

desprende-se o pecado do tecto, cortei-lhe o fio, quebra-se no chão, em lençóis, paredes, mãos, costas.

tenho os pés frios

e o coração a ferver

encaixa-te

fazemos do escuro aliado de murmúrios de um prazer partilhado, e faço-me demorar em ti, qual doença, qual tempestade que não quer ir embora.

não vamos mesmo embora, nunca

falar-te dos teus lábios que inspiram a poesia;amar com as mãos;

assim. »
o
*
o que sinto não tem nome, tem cheiro: de mãos que se tocam em tardes quentes e abraços depois do amor que nos salva.
f
Magda Martins