sábado, 23 de janeiro de 2010

saudades

As saudades são facas afiadas que nos atravessam o corpo em momentos nostálgicos. E, o mais engraçado, é que sentimos saudades, por vezes, das coisas mais tolas que possam existir, ou até mesmo de coisas que nos fizeram sofrer. Quando aparecem coisas mais concretas na nossa vida, coisas que nos conseguem baralhar completamente os sentimentos, o medo com a esperança, a impotência com a vontade, sentimos saudades das dorzinhas medíocres das paixonetas falhadas (e não passamos a usar diminutivos nas palavras que se referem ao passado por este não ter doído, mas sim por ser de minúscula importância comparado com o que lidamos). Quando passamos a ter um horário completamente ocupado, ao princípio parece bom termos a mente ocupada, parece-nos bem distraí-la o mais possível, mas a dada altura desejamos riscar a agenda e deixar grandes espaços em branco para nos dedicarmos à arte de nada fazer (e, se alguém nos liga a marcar sessão, respondermos com a amável frase "Está tudo preenchido"). Quando estamos na sala ao lado das pessoas de quem mais gostamos, sentimos saudades de quando estavamos sempre com elas e já não nos podiamos ver à frente. Quando não temos trabalhos de grupo para fazer, a princípio, parece-nos bem, não nos temos de preocupar em buscar horas compatíveis, a discutir ideias, a aceitar as ideias dos outros de que não gostamos assim tanto. A longo prazo, desejamos que alguém nos dê um tema e nos largue o trabalho nas mãos porque, todos sabemos, 90% do trabalho de grupo é paródia, e sobram apenas 10% para o trabalho, embora só nos apercebamos destas percentagens quando não nos temos de preocupar com elas. Quando decidimos sermos os nossos próprios confidentes, às vezes temos saudades daquela capacidade que tínhamos de desabafar com as pessoas.
Tenho saudades do mar de coisas, de oportunidades, de rotinas que, até há bem poucos meses, eu tomava como certas.

rm