quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Turbilhão de ideias confusas, dispersas

Não há amizades como dantes: sinceras, grandiosas, enriquecedoras, seguras, confiantes. Não pode haver. Hã? Porquê? Ah, porque o "manual da amizade contemporânea" da rebanho editora diz (ou será que quase que manda?) que hoje as amizades têm de ter os seguintes requisitos:

1. Comunicação essencialmente feita através de contacto telefónico (SMS) e virtual (messenger e redes sociais e os seus mesquinhos e falsos comentários, dos quais algumas pessoas afirmam a sua existência, mas como devem precisar muito daquilo, continuam na mesma)
2. Falar directamente com a pessoa olhando.... (imaginem só) para o ECRÃ DO TELEMÓVEL. (incrível, nunca vi isto em lado nenhum)
3.Não há reciprocidade, ou seja, tira-se à sorte quem vai ser amigo de quem. Se A dá a B, B não dá a A. Se B dá a A, A não dá a B.
4. Não há espontaneidade. (Ah...calma...senta...isso...muito bem. Não ajudes o outro se ele não te bater à porta ou te mandar um SMS)
5.Quanto mais vazia a amizade for, melhor. Conversem sobre as originais e sempre fascinantes cores dos vossos tachos ou talheres. Falem sobre a forma do vosso tecto. Dos dedos das mãos. Vá, qualquer coisa menos os assuntos proibidos: tudo o que envolva conhecimentos ACIMA daqueles que um míudo de 12 anos tem.


Parabéns! Uma vez cumpridos estes requisitos, estão prontos para se tornarem...UMA OVELHA! IGUAL A TANTAS OUTRAS! NÃO É FASCINANTE?



Em crianças, sonhamos. Em crianças, queremos ser tudo.

Em adolescentes, passamos mais tempo a emitir as nossas opiniões sobre os outros (sinal tão claro de pobreza de espírito e de desgosto em si próprio) do que com algo de grandioso. Em adolescentes, queremos muito menos do que em crianças.



Ok, tornamo-nos conscientes de muitas coisas que podem travar os nossos sonhos. Mas raramente aprendemos como "andar" no seu mundo.




Tornam-se (os adolescentes) ovelhas num rebanho enorme, e como tal, têm medo se perder (como não há identidade própria, têm de a arranjar através de uma identidade grupal. Os grupos são mesmo muito bons, quando permitem alguma diferenciação).

De vez em quando, entra em cena o cão, com os seus latidos fortes, a alertar para a necessidade de ordem, de o rebanho estar unido. A impedir qualquer tentativa de desvio à normalidade.

Sou o mais sincero possível quando considero muitas pessoas que conheço autênticas "ovelhas". Pessoas desinteressantes, iguais, qual artigo produzido em série com o passar dos anos.

Sim, vocês ovelhas sentem-se seguras. Claro.... e que tal sentirem-se.... estúpidas? Porque não?
Se pensarem bem (coisa que aliás devem fazer de acordo com regras que limitam muito este acto) vocês agem todas de modo idêntico ou para lá caminham. É na adolescência que se forma a (quase totalidade) nossa personalidade, não se esqueçam.
Não se desinteressem por vocês mesmas. Não se tornem desinteressantes. Não se esqueçam que, apesar de ser importante sermos todos aceites, isso não implica sermos IGUAIS.

É por isto que critico duramente (e não tenho qualquer peso de consciência em fazê-lo) as ovelhas-humanas: pessoas que, por motivos vários (por exemplo, falta de ou fraca personalidade, fuga de algo inevitável,...) acabam por se perder...de si mesmas...do seu mundo....e entram num mundo fantástico onde todos são....IGUAIS! BRAVO! BRAVO! BRAVO! FANTÁSTICO! YUPI!

Tenham coragem de assumir a vossa identidade... se não a perderam já. Mas nunca é tarde.
Afirmem-se plenamente! Não sejam fracos! Não sejam iguais a X ou Y! Tenham referências, sim, mas não sejam uma cópia!

Um apelo da autoridade das minorias. Não tem como objectivo ferir susceptibilidades (mesmo com o seu quê de ironia e agressividade) mas sim ACORDAR as pessoas.

A.P.

P.S.: não dirijo este post a todas as pessoas que conheço nem a todas as pessoas que participam neste blogue (felizmente, muitas delas estão fora do rebanho - sim, não uso aspas- e isso deixa-me orgulhoso e feliz), mas já sabem: se acharem que vos serve, enfiem a carapuça . E tirem o melhor proveito dela.