domingo, 30 de agosto de 2009

URGÊNCIA RASANDO O INFINITO...


Regresso a casa, ao lugar de mim, e escrevo...
Esta minha casa renovada, de onde os olhos se evadem. Eu, no esconjuro do meu próprio nome, que me pertence, digo-me segredos de anjos, de luares alados no meu ventre e de mãos... as tuas... decerto... transgredindo a progressão das horas.
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Quero proferir todos os nomes como quem desata umas asas. As minhas. Emaranhadas , mas não inertes.
Seguro as asas na mão e vou, por este leito de luz e água, os olhos abertos na pureza de quem não teme a verdade, e a rebentação toda no peito. Os meus seios inventam duas margens - as minhas mãos escorrem pingos de luz - ter rio e mar na clarividência de um poema... assim se maravilham os meus passos.
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Amo esse instante, a brevíssima pausa antes de murmurar o teu nome guardado em segredo, e mais um dia arrancado palavra a palavra...
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Em dias como este, lentos, lisos, brancos e quentes, pela janela do meu quarto sai um sussurro, um restolhar brando, quase de pássaros, quase de árvores, quase de flor. Cá dentro, o meu anjo despe as suas asas e um vento-brisa levanta-se nas planuras do meu ventre-canela. A tua voz, o riso manso dos teus olhos, os teus beijos de plumas e de sossego, crescem em mim como mãos.
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Não sei de hora mais hora em mim que possa, com o ir e vir das horas e das marés, ser mais mar... mais amor... em refluxos de sal e onda, que o amar-te por sobre o dia e por sobre o tempo do dia, que olhar o infinito do ir e vir aqui, perante as ondas, perante o mar, e descobrir que sobra sempre mais sal de marés, mais sal de marés e de tempo, que se desfaz noutra e ainda mesma coisa como areia da praia toda líquida, ou água de mar toda verde, que esconde em si todo o sol e todo o azul de céu infinito.
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Não sei de outra coisa, amor, que amar o mar, e o amor amar-te no mar deste amor, e assim erguer o meu corpo perante o dia... sobre ti.
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cc... Ni*