quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A multiplicidade de Fernado Personne

"Entre mim e a vida existe um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não posso tocar-lhe."


"Meu Deus, meu Deus, a quem assisto? Quanto sou? Quem é eu? O que é este intervalo entre mim e mim?"


"Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)."


"Sou múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única realidade que não está em nenhuma e está em todas."


"Negar-me o direito de multiplicar-me seria o mesmo que negar a Shakespeare o direito de dar expressão à alma de Lady Macbeth, com o fundamento de que ele, poeta, nem era mulher, nem, que se saiba, histero-epiléptico, ou de lhe atribuir uma tendência alucinatória e uma ambição que não recua perante o crime."


"Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora.
Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário.
E aquilo a que assisto sou eu.
Talvez porque eu pense de mais ou sonhe de mais, o certo é que não distingo entre a realidade que existe e o sonho, que não existe. E assim intercalo nas minhas meditações do céu e da terra coisas que não brilham de sol ou pisam com pés - maravilhas fluidas da imaginação."



P.S. - Setora, deixei-lhe um comentário naquele post em que tem uma foto sua quando era ainda mais novinha! Vá ler =)


"Tão frágil e ao mesmo tempo tão forte..."


Indira