sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O mistério da vida dói-nos e apavora-nos de muitos modos. (…)

Mas este horror que hoje me anula é menos nobre e mais roedor. É uma vontade de não querer ter pensamentos, um desejo de nunca ter sido nada, um desespero consciente de todas as células do corpo e alma.

É o sentimento súbito de se estar enclausurado numa cela infinita. Para onde pensar em fugir, se só a cela é tudo?


Vivo sempre no presente. O futuro não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. (…) O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas.


Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro do Desassossego


avrp