domingo, 28 de setembro de 2008

finais felizes são apenas histórias inacabadas

O ratinho passeava no campo. Tivera uma vida cheia de obstáculos, tal como todos os outros ratos. Um dia, num momento único da sua vida, passou uma águia a rasar o seu lar, que o viu, imediatamente percebeu que tinha de ficar com ele que, ingénuo, acreditou que a ave o faria feliz.
Durante muito tempo, voaram, viram os mais fantásticos sítios do mundo e, principalmente, viram locais de um mundo que os dois criaram, um mundo que mais ninguém podia visitar. À noite, a águia protegia o ratinho com as suas asas. Desta maneira eles eram duas metades juntas num só todo. E acharam que seria assim para sempre.
Um dia, sem que nada o fizesse prever, as paisagens magníficas desapareceram, o cinzento-escuro tomou o lugar do azul celestial que lhes serviu de tecto durante momentos que pareciam retirados do fundo de um sonho. Apareceu um abismo, fundo, escuro, frio, feio, assustador. A águia, vil águia, abriu as garras e deixou o ratinho em queda livre, sem ninguém que o amparasse, sem preparar a sua queda, que foi dura e seca. Gritou em silêncio para ninguém ouvir, sentia-se partido em pequenos pedaços. Não o corpo, a alma e o coração.
Entre pedras gigantes, ramos afiados, bichos perigosos, o ratinho traça o seu trilho, o seu destino, tenta recompor a sua vida, juntar os pedaços de um coração congelado pela frieza da pessoa em quem mais confiava. Mas sempre que vem um dia bom, a águia sobrevoa o abismo, sorri-lhe, acena-lhe, e continua o seu caminho. Traz ao ratinho a memória de tempos felizes, que o magoam mais que muito no presente.
Apesar da sua pequenez, o ratinho tem um coração, ainda que partido, enorme. Vai-lhe custar continuar o caminho sem o calor das asas que o protegeram durante tanto tempo, mas ele tem a força de um mundo dentro de si. E, se a águia voltar para lhe pedir que o aceite de volta, o ratinho olhará em frente, e não perderá tempo a olhar para trás. O ratinho encontrará a felicidade, custe o que custar…
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Nem sempre conseguimos manter um grande sonho vivo. O importante é, nessa confusão de sentimentos, embaraçados como um novelo de lã, encontrar a "ponta da linha", que será a ligação com uma nova vida, mais risonha, com mais sonhos, com mais desilusões, com mais lições.
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Cathy*