terça-feira, 23 de setembro de 2008

'JÁ...'






Já fiquei na praia até anoitecer
Já fiquei acordada toda a noite, até ver o Sol nascer
Já infringi as regras
Já tive medo de me levantar quando acordo de noite
Já senti que tinha o mundo contra mim, quando era apenas eu contra mim própria
Já caí no fundo do poço e encontrei forças para sair
Já senti amor verdadeiro
Já cometi loucuras com o coração que a cabeça jamais autorizaria
Já chorei e acordei com os olhos inchados
Já ri até me doer a barriga e chorar
Já fechei os olhos a várias coisas que mais tarde me fizeram felizes
Já sofri por ver amigos partir, mas acabei por descobrir que às vezes nem tudo o que entra na nossa vida permanece, às vezes são apenas um pequeno fragmento de vida que levaram consigo um pouco de nós e deixaram um pouco de si
Já chorei por ver amigos sofrer
Já acreditei (e no fundo ainda acredito) no “felizes para sempre”
Já lidei com a morte e ainda hoje a temo
Já me senti humilhada
Já chorei muito por quem não merecia
Já fui injusta
Já faltei a aulas
Já caminhei debaixo da chuva
Já cai e sempre me ri enquanto me levantava
Já me atirei para uma piscina a meio da noite
Já andei à noite na rua com amigos, a cantar e a rir
Já me senti só numa multidão, porque a única pessoa que precisava não estava lá
Já sonhei (e sonho SEMPRE) muito alto
Já fiz muitas “marcas de guerra”, que no fundo são mais peças do puzzle da minha vida
Já estive no topo de uma montanha, a sentir o vento frio na cara
Já me senti longe de alguém, mesmo ela estando ao meu lado
Já me senti mesmo muito nervosa
Já senti que não tinha força para continuar com a minha vida
Já tive amigos que foram, em tempos, como irmãos
Já magoei pessoas que amo
Já gritei em concertos ao ponto de ficar afónica durante muitos dias
Já achei que a vida seria fácil
Já achei que não era ninguém no mundo
Já senti que tinha perdido tudo o que realmente importava
Já fui fútil e materialista
Já me sentei no meio da Natureza a desfrutar tudo o que a vista me possibilitava Já confundi os meus sentimentos
Já tentei esquecer alguém de um dia para o outro
Já perdi oportunidades na minha vida por não ter tido a coragem de falar
Já fui prejudicada por não ter sabido agir da maneira certa
Já fiz pessoas sofrer
Já quis conseguir voar
Já subi às árvores e rasguei as calças
Já fui vingativa
Já fui agressiva com meio mundo
Já disse a palavra errada no momento errado
Já fiquei horas a olhar para o lenço escutista e a pensar no orgulho que tenho em ser o que sou, em fazer o que faço, em ter as oportunidades que tenho
Já recusei ajudar alguém
Já recusei ajuda de alguém
Já fiz batota
Já copiei
Já escondi muitas vezes as lágrimas por detrás de um sorriso enorme
Já chorei de alegria
Já tive saudades de coisas que já lá vão há muitos anos
Já fiz coisas que aos olhos dos outros são incompreensíveis
Já segui pelo caminho errado, e enquanto caminhava pelas trevas achei o atalho para a felicidade
Já verifiquei que as perguntas mais complexas têm as respostas mais simples
Já achei amigos antigos na rua, e fiquei horas a relembrar os velhos tempos
Já desprezei quem precisava de mim
Já senti “friozinhos” na barriga
Já fiquei fula comigo mesma por ter tido grande sucesso em algo (por exemplo, ter notas quase máximas na escola), mas saber que não foi o meu máximo, que podia ter feito mais
Já amei e não fui correspondida
Já morri e nasci de novo
Já tive medo de arriscar e saltar de olhos fechados

*

No fundo estas são algumas das linhas que cosem a minha vida. Existem tantas outras que nem me vêm à memória agora, porque nestes anos todos passei por tantas experiências diferentes que ficaram com histórias tão próprias, uma frase, uma simples imagem, porque não são só as palavras que contam algo, muito baseia-se também em imagens gravadas quer na minha mente, quer nos milhares de fotografias
que tenho captado ao longo dos anos. Conheci pessoas fantásticas que deixaram sempre um pouco de si, porque no fundo sou isto, um conjunto de pequenos pedaços que as pessoas deixaram no meu coração, o
maior álbum de recordações que tenho.



Do que fiz, nem do que me levou pelos caminhos mais dolorosos me arrependo, porque, afinal, foram esses caminhos que me fizeram crescer um pouco mais e tornar-me na pessoa que sou hoje!
Tudo o resto, tudo o que não fiz, tudo o que adiei porque achava que tinha tempo de sobra… isso sim, arrependo-me profundamente!
E é isto que tento fazer a cada dia que passa… procurar sempre viver ao máximo, não recusar oportunidades que a vida me oferece (pois elas podem nunca mais estar ao meu dispor…), lutar por aquilo que quero e dar o meu máximo a cada dia (porque o céu é o único limite!) e mesmo quando ando nas trevas, em caminhos estragados e cheios de pedregulhos, ser um farol a girar em todas as direcções à procura da felicidade.


*
Rita Marques ©
11ºA, nº16