quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PALAVRAS


"Não sou de muitas palavras

Nunca fui!

Existe em mim uma necessidade de silêncio

Premente

E limito-me a dizer o insondável

O extremamente necessário

O urgente... o aflitivo

Não que o seja da minha parte

Mas sim dos outros

Que com olhos postos aguardam

Expectantes

Umas quaisquer palavras

Numa ânsia desmedida

De as conhecer

De as beber

E assim pronuncio-as

Finalmente

Mas palavras são apenas isso,Palavras!

E mal são ditas perdem o significado

Que tinham antes de proferidas

Como se de uma magia qualquer se tratasse

E o poder só existisse enquanto fechado,

Secreto e sacramentado

Depois de ditas

São banais

Vulgares

Iguais

Palavras

São armas de arremesso

Doce afago no coração

São punhais, terrível traição

São desculpas esfarrapadas

Tristes notícias nos dão

Palavras

São tantas vezes enganos

Tanto faz de conta

Tanta falsa emoção

Deixámos há muito de comunicar

Construímos apenas castelos

Mas no lugar das cartas

Fizemo-lo de palavras

Que do mesmo modo tombam

Perante a realidade de uma acção

Palavras deixaram de ser ditas com o coração

Dizemo-las convictos de nada dizer

Sabendo que caminhamos sem direcção

Palavras são escudos de bem parecer

Ocas de significado sem vontade ou lição

E assim as palavras deixaram de ser

O que diferenciava um ser de outro ser

Palavras

São apenas palavras

Desprovidas de valor

Sem significado

Morreram

Solitárias

Na tinta

Apagada e envelhecida
Dos tratados

E condados

Num outro tempo

Noutro lugar

No passado

Adormecidas

Diz-me tudo o que quiseres... mas não mo digas por palavras!!!"







Scorpion