sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

AMO-TE, LISBOA! (IV)


Mesmo num dia gélido há, em Lisboa, a cor-luz-quente das especiarias, derramada nos telhados, nas curvas das colinas sedutoras onde o sol implora para ficar mais um pouco. Cores-eco da alegria que há em todos os regressos. Como o dos que numa nau conjugavam, há muito tempo atrás, o verbo voltar-à-pátria. E há também, em Lisboa, sombras-hibernações-de-esperas. E sal. Há sal retirado do rio, tão doce, e colocado nos lábios das mulheres que sempre ficavam. Sempre. Sempre é som sagrado, juramento. Sempre é muito tempo. Talvez, por isso, as mulheres de Lisboa têm aves inquietas nos olhos. Talvez. E migram nos sonhos, mas nunca nos afectos, onde voltam sempre. Aquele sempre que é sagrado e juramento. Aquele sempre que é muito tempo. É. Eu sei.



CC

~*~


(Para ver as fotografias no tamanho original bastar clicar sobre elas)



















*

(Hoje, mais um amigo partiu. Estava em sofrimento. Palavra que não rima com nenhuma outra. Sofrimento nunca é poesia. Assim se vai esvaziando a minha vida. Sinto-me peça dum puzzle onde já faltam tantas outras-peças-de-afecto... que o desenho de quem sou se vai apagando. E se somos eternos enquanto perduramos na memória de quem nos quer bem... também só existimos enquanto houver alguém com quem rir... alguém que nos leia os brilhos e as cinzas... alguém que saiba cantar o nosso nome.)