quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CARTA DUM MARGINAL

Um dia pego na estrela que trago no coração e atiro-a à cara de alguém...
Um dia agarro todos os meus sonhos e todos os meus sorrisos, e deito-os num poço, já que ninguém os quer...
Um dia junto as pétalas das rosas e a ternura que trago nas minhas mãos, e ponho-as às costas duma pessoa qualquer...
Um dia apanho o meu sorriso mais doce, o meu búzio mais lindo, e a concha da minha infância, e deixo-os morrer de fome...
Um dia vou dentro da minha alma, tiro-lhe todos os tesouros e os mais lindos poemas que trago comigo, e rasgo-os diante da multidão...
Um dia as asas dos meus pássaros baterão com tanta força, que eu irei com eles a voar...a voar...
Um dia drogo-me por saudade da minha ternura perdida, violento-me e violento uma menina de tranças louras...
Um dia roubo um banco, compro uma mota e fujo para o fim do mundo...
Aí, dou um beijo a qualquer desconhecido...
Aquele beijo que sempre quis dar...

Júlio Roberto

Sara (Correia)*