quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

a terceira cor

Pretendendo abstrair-me do mundo, fui pintar. Com o vermelho da paixão que vivi, e o branco da serenidade que senti. Percorri todo o espaço com aquela tinta, queria que tudo ficasse perfeito. Quando acabei, quis voltar a pintar, começar tudo do início, mas não dava. Tentei, dei tudo por tudo, nada havia a fazer. Precisava de uma terceira cor: o verde esperança. Procurei pelo meio das tintas, mas não encontrei. Tentei fazer misturas de cores, mas não alcancei o pretendido. Fui lavar os pincéis, as mãos. Sem querer, escapou-me para os lábios o antigo vermelho paixão. Limpei. Nas mãos, o branco serenidade com que desenhaste o meu mundo. Limpei. A única maneira de salvar o perdido era a esperança. Dizem que a esperança é a última a morrer. Eu estou viva, e o meu verde, o nosso verde, desapareceu.
Arrumei tudo. Sentei-me. Olhei o passado com os olhos cheios de saudades, e lavei-os com o sal das lágrimas. Nada resta de ti, absolutamente nada. Foi o que desejei, e alcancei-o. Agora, indago-me se isso me faz realmente feliz...


(escrito, há uns tempos, num dia sem verde)
Ritz Mkz