terça-feira, 14 de outubro de 2008

Mar Portugues

O mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, o mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não e pequena.
Quem quer passar alem do Bojador
Tem que passar alem da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele e que espelhou o céu.

Senhor, a noite veio e a vontade e vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nos criou,
Se ainda vida ainda não e finda.
O frio morto cinzas a ocultou:
A mão do vento pode ergue-la ainda.

Da o sopro, a aragem - ou a desgraça ou ânsia-,
Com que a chama do esforço se remoca,
E outra vez conquistamos a Distancia-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa

Li@