sexta-feira, 17 de outubro de 2008

«Ouve...»


Ouve:


Como tudo é tranquilo e dorme liso;

Claras as paredes, o chão brilha,

E pintados no vidro da janela

O céu, um campo verde, duas árvores.

Fecha os olhos e dorme no mais fundo

De que tudo quanto nunca floresceu.


Não toques nada, não olhes, não te lembres.

Qualquer passo

Faz estalar as mobilias aquecidas

Por tantos dias de sol inuteis e compridos.


Não te lembres, nem esperes.

Não estás no interior dum fruto:

Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.


Sophia de Mello Breyner Andresen


juanna #