quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sorte infernal

Vagabundeando pelo asfalto da vida,
a minha alma, maldigo a sorte !
que da esperança em voz ardida,
lentamente lhe traz a morte.

A chuva cai soprada por vento siberial
As estrelas, há muito meus olhos não beijam
E no meio deste frio temporal,
Meus pensamentos velejam

E eis que de repente,
Um pensamento para longe parte, o lar materno
Onde exprimo todo o meu tormento,
Dizendo, no meu coração, só existe Inverno!

No vento esta mensagem escrevo, queridos,
Na ausência de ventura, por entre campos de trevo
Vosso amado as quatro folhas procura.

Também lágrimas eu choro
Apagadas por lenços frios
E dos olhos eu as adoro,
Correndo como rios

Esta desventura me persegue
Desde o colo de minha mãe !
E minha força não consegue
Badala para o além!

Troquei-vos, pela escravidão e pelo frio !
E com voz serena vos digo,
Que este é mais um desafio,
E que vencer eu não consigo.

Jesus ressuscitou, dizem, não sei, não vi !
Mas sou eu sim que transporto a cruz
E libertar-me ainda não consegui

Trinta e cinco anos de penosa dor
Com o espírito já remoto
Pelo transporte de tão pesado andor !
Que nada tem de florido.

Ser poeta é coisa séria !
E um desafio à morte,
Todos morrem na miséria,
Todos partem sem ter sorte

Por isso, das sílabas não me ocupo
Das sábias letras sou isento
Da rima me preocupo
E dos meus poemas me contento

Bocage tantos outros.
E Camões ?
Suas mãos os entregaram ao destino
Delas restaram canções, que em muitas vozes são tino!

Na poesia, eu os admiro, eu os aclamo,
O Infortúnio, foi sempre seu tema
E eu por ter dois filhos que muito amo
Tenho receio e termino aqui o meu poema.

Li@