segunda-feira, 24 de novembro de 2008

rotina

Acordo. Desejo que ainda seja de madrugada, que ainda haja tempo para permanecer no quente da minha cama. Mas não. Levanto-me, tomo banho, meia a dormir, meia acordada. Arrasto-me para a cozinha, onde engulo o pequeno-almoço à pressa, porque já estou atrasada. Visto-me, e saio de casa a correr, porque o autocarro não tarda a chegar. Tudo isto para me aperceber que o meu relógio está atrasado. Encosto-me à paragem, e vejo chegar pessoas, pessoas que vejo todos os dias, mas elas não sabem quem eu sou, o que faço, o que passei, assim como eu não sei nada sobre elas. Chega o autocarro, entro, de mal com o dia, com o tal humor matinal a que ninguém escapa. E vejo-te. Não me bastava tudo, vejo-te. Vejo-te com o teu ar como se nada se passasse. Vejo a pessoa que me fez viver um inferno. Vejo a pessoa que me desiludiu mais que tudo neste mundo. Apetece-me gritar. Dizer-te que te odeio. Que odeio quem és. Que me metes pena. Apetece-me apertar-te o pescoço até me explicares porque me fizeste o que fizeste. Apetece-me bofetear-te, esmurrar-te, apetece-me magoar-te e dizer-te que não é nem metade do que senti. Mas recolho-me num silêncio forçado e constrangedor, que apenas se rompe para soltar um "Bom Dia" recheado de má vontade, um cumprimento que faz parte da boa-educação que não quero ter para contigo. Apetece-me mandar-te para um sítio muito feio, apetece-me mandar-te de volta para o teu mundo, para que não mais me importunes.

Sento-me, olho pela janela. Sinto-me mais calma agora que te fiz, mesmo que em pensamentos, tudo o que queria fazer. Amanhã tudo repetir-se-á.



Ritz Mkz