sexta-feira, 3 de abril de 2009

espaços e memórias

o presente é um conjunto de memórias do passado. e, se já desejei não ter certas memórias que me consumem em alturas críticas, também já percebi que algumas pessoas não têm memórias dessas, e isso faz-me muito mais rica em relação a elas.

se há algo que nos desperta as memórias, escondidas no canto mais obscuro do nosso ser, são os cheiros, os sons e, sobretudo, os espaços. olhar para os espaços que segredam histórias da nossa vida faz um calafrio atravessar a espinha, acima da velocidade e intensidade permitida, nascem borboletas no estômago e, se essas memórias forem fortes o suficientes, são capazes de inicar uma nascente de lágrimas.
não chego a tanto mas, ao fim de seis meses, voltar ao local onde vi aquilo que com mais cuidado tratei, morrer definitivamente, doeu cá dentro. por muito que se tente ficar indiferente, tentar ser forte o suficiente para mostrar que já não se importa, é difícil. ainda para mais se, em vez dos seis meses, recuarmos um ano e seis meses. aí assombram-nos as memórias boas, aquelas que fortaleceram o que parecia ser para sempre.


veio-me tudo à memória. a madrugada que decorria, o banco, a rapariga lavada em lágrimas, o amigo importante, os lenços oferecidos, as piadas parvas contadas, com o intuito de colocar um sorriso naquela cara que nunca os amigos tinham visto nela, a lesma que parecia uma folha, e o cretino que provocou tudo aquilo, com a sua maior cara de indiferença, face ao que se passava.

nem todos os momentos importantes são feitos de boas memórias...esta é das memórias mais dolorosas que tenho, todavia das de maior importância. foi a reviravolta na minha vida, o desenlace de um capítulo e o início de outro e, por muito que doa, ela existiu, existe, e sempre existirá. cabe-me equilibrá-la, para que não me magoe muito mais do que ainda magoa.

[ respira fundo, rapariga. porque daqui a umas semanas vais ter de lá voltar. ninguém te disse que a vida iria ser sempre fácil e justa. ]


ritzm