quinta-feira, 23 de abril de 2009

a priori

Escrevo, porque apenas assim te consigo amar como quero. Leio as velhas e ridículas cartas que trocámos, pois apenas assim te consigo escutar. Ouço um Amo-te quase silencioso, e essa ilusão faz-me sorrir durante alguns segundos, mas rapidamente tudo se desvanece. As pessoas parecem não querer parar de me lembrar de ti, perguntam-me, questionam-me, aborda-me para, no fim, dizerem: ficavam bem juntos. Gostava que as pessoas largassem os pretéritos, moldassem-nos num harmonioso presente, com a mesma facilidade com que se faz um avião de papel. E, então, aí as pessoas diriam: ficam bem juntos. Como tantas vezes nos disseram. Ficávamos. Ficávamos porque tudo o que fazíamos era perfeito, pelo menos a nosso olhar. Fazíamos a mais trivial da situação parecer retirada de um sonho quase impossível de viver.

Parece-me que não disse, mas estou a escrever no autocarro. Porque olhei para o lado e tu não estavas lá, da maneira que sempre estiveste. Estou a escrever porque sei que tenho facilidade em esquecer as ideias, facilidade que queria ter para te conseguir esquecer a ti.
É inútil tentar eliminar-te da minha vida, não vale a pena olhar para o outro lado da rua sempre que passas. Devia agir naturalmente. Não, isso não é solução, pois não creio que o certo seja correr para ti e dizer que tenho saudades. Calo-me, no silêncio mais profundo e constrangedor. Eu, que dou valor aos silêncios, estou farta deste. Olhar-te nos olhos e não te dizer o que quero, é o mais profundo martírio que vivi.

Partiste, e levaste quase tudo o que eu tinha. Mas esqueceste-te da minha força de vontade, da minha dignidade, do meu orgulho. Essas, nem o maior dos amores me pode levar. E é com elas que me defendo sempre que a tua presença atenta à minha sanidade.


[ Hoje escrevo, porque faz um ano que tive os dois dias mais fantásticos contigo. Os últimos dois dias fantásticos que tive contigo. A partir daí foram só vazios e falsas promessas. ]



ritzm